segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011 | By: Doracino Naves

Alma laranja

Saio de casa depois do jogo em que o Brasil perdeu para a Holanda. A desorganização do time brasileiro dá um pouco de humildade em nossos exageros no futebol. Bem que o futebol poderia ser mais simples dentro e fora do campo. Melhor seria, simplesmente, um drible, uma ginga, um gol. Como nos tempos de pelada nos campos de terra da meninice onde o final é alegre. Mas, e o resultado, não importa? Mais importante é o prazer da vida. Ao contrário, em época de futebol de resultados, o sofrimento dos torcedores beira ao masoquismo.

Por que ligar para os amigos para ouvir amargura nessa tarde infeliz, dizer coisas vãs? Ainda mais, impacientes, ouvir a opinião dos comentaristas se vimos o jogo pela televisão?  Há um prazer mórbido nisso tudo. Melhor seria ver mérito no jogo da Holanda; não nos culpar pelo fracasso na Copa. Procuro ficar sereno na quietude dessa tarde quando a seleção brasileira volta pra casa depois de quase um mês na África do Sul. Os jogadores, meninos ricos e famosos, deveriam reviver o tempo das peladas aonde o placar do jogo é um mero detalhe de sonhos. Valia zoar o outro sem conflitos; hoje uma jogada de gol pode valer milhões de euros. Daí, talvez, a maior pressão sobre esses meninos da bola. Perder, às vezes, pode nos ajudar a vencer certas barreiras do coração.

Ando pelas ruas quase desertas de Goiânia. Sinto uma imponderável mão acalmando as minhas emoções. Entrego-me, resignado. Uma brisa suave mexe nos meus cabelos. Fecho os olhos aliviando os meus pensamentos. O jeito é usar o controle da mente para calar a pilha de palavras dos comentaristas que ganham para dizer coisas e mais coisas; como se soubessem tudo. Expulso o mau pensamento para purificar a mente.

Sonho com Deus; ou será que eu, enquanto ser humano, sou um sonho D’ele? Sonho com a música guardada nos meus discos, as histórias sonhadas nas páginas dos meus livros. Sonho com um mundo de alma grande, com o futebol alegre que sublime a arte da alegria de jogar. Idealizo a vida com simplicidade, igual comida de mãe. Simples como o trabalho físico que fadiga o corpo, mas alivia a alma.

Ergo os olhos. As árvores do Parque Areião estão com as folhas tristes como se fossem responsáveis por Goiânia, pelo mundo e pela derrota da seleção brasileira de futebol. Um vendedor de camisetas do Brasil, expostas num varal sem poesia, passa as mãos pesadas pela cabeça.

Doracino Naves é jornalista, diretor-apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (www.raizestv.net)

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