terça-feira, 10 de janeiro de 2012 | By: Doracino Naves

Leões de Essa


Somos uma imitação tosca do Deus Todo Poderoso. Sem a energia cósmica do espírito talvez fôssemos apenas um monte de carne e ossos. Creio que toda a inspiração provém do Espírito Santo. Assim prevalece nas artes e na religião. Na criação artística o dom de Deus se manifesta nas filigranas de cada composição. Os fios de ouro da expressão poética da vida estão ligados nos céus. O mundo seria um paraíso eterno se o homem compreendesse a sua pequenez diante da exuberância do Universo criado por Ele. E seguisse as leis naturais de autoproteção.
Vejo na cor azul o berçário limítrofe entre a matéria e o espírito. Nessa região nascem as estrelas do conhecimento. O talento do artista ou do escritor revela os dons da Divindade. Se as estrelas jovens não têm muita energia, com o tempo da conexão com o universo criado por Deus elas se enchem de energia tornando-as tão densas quanto à gravidade das estrelas mais antigas. Então, a acuidade do artista é capaz de fazer a luz curvar.
Noutros a inspiração chega no nascer, mas com a experiência das vidas passadas por Cristo. Iguais à estrela bebê da Constelação de Orion. Por falar nessa constelação, diz a lenda que um caçador cuja vaidade era tão grande que irritou a deusa Ártemis.  Como castigo enviou o caçador para o céu se transformando na Constelação de Órion. Pois é, a vaidade distancia o homem da sua origem divina. Solitário, ele se perde no espaço da sua presunção tola. E se contorce nas influências exteriores formando figuras distorcidas a navegar pelo cosmo como a Galáxia Gancho de Carne.
Penso que a autossuficiência torna o homem tão vaidoso que ele se transforma num átomo perdido nas brumas do tempo. E se acha o esplendor solitário de uma estrela três milhões de vezes mais brilhante que o sol. Imagino que a vaidade não seja boa companheira do homem. Principalmente para quem precisa da visão espiritual para criar. Talvez seja essa percepção que faz a insofismável diferença no conceito artístico.
A retórica artística ou a palavra do pregador diligente, quando gerada no espírito, produz frutos. Quando somos meros repetidores de coisas – sem o toque do Espírito Santo –  somos sementes jogadas na terra seca.  Mesmo que a árvore cresça ela será distorcida. E a obra pode revelar a sua visão pessoal e não, necessariamente, a do espírito. Lembro aqui uma visita ao Museu de Aleijadinho, em Ouro Preto.
Aleijadinho e Mestre Ataíde, seu contemporâneo, são as grandes figuras da arte barroca brasileira. Aleijadinho, então, pode ser comparado a Michelangelo, artista italiano do renascimento. Fiquei abobado diante da beleza artística de Aleijadinho. Percorri as galerias do museu vendo as obras exposta quando me deparei com as figuras bizarras dos Leões de Essa. Fiquei tão surpreso que imaginei que as figuras eram de outro artista. Os Leões de Essa, esculpidos em madeira, têm cara de macaco, patas de gavião, orelhas de porco e em nada lembram um leão.
Nem a juba ele tem. São quatro peças que servem de suportes para os caixões dos mortos. A explicação veio rápida pelo Mestre Totó, um guia turístico que me ensinou quase tudo sobre Ouro Preto.
- Na época de Aleijadinho não havia nenhuma imagem de Leão. Então, um velho escravo lhe disse como era um leão. E a transmissão oral foi feita com as lembranças antigas da África associadas à realidade da região de Ouro Preto. E Aleijadinho reproduziu o que a mente humana inventou.  
Os Leões de Essa feitos por Aleijadinho não têm a mesma força espiritual da sua sublime criação, imortalizada nas igrejas de Ouro Preto, Congonhas, São João Del Rey e outras cidades da região. Sem a força criativa de Deus somos toscos como os Leões de Essa.

1 comentários:

Simone Life Prieto disse...

Muito interessante, realmente se o homem não procurar a Deus em Espírito e em verdade, ele fica totalmente perdido, sem noção da vida.

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