sexta-feira, 20 de janeiro de 2012 | By: Doracino Naves

Eu estou com medo

Desde a aurora do homem que a terra é um zoológico biruta. No filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço -  o diretor Stanley Kubrick, mestre de Spielberg, alinha interpretações diversas na intrépida viagem da nave Discovery, controlada pelo mega computador HAL 9000. Uma delas é a de que existe um mundo inteiramente novo lá fora. E a realidade mais confortadora: o universo é dirigido por Deus, o Criador de todas as coisas. No amanhecer de um dia da pré-história, o grupo de macacos, surpreso, percebe o monólito cravado na pedra alinhado com o sol e a lua.

Vi esse filme umas dez vezes. Uma delas foi à passagem de 2001, quando a Rede Globo o exibiu na madrugada do novo milênio. Sou um bobão da roça que demora a entender as coisas. Preciso de muitas explicações para começar a entender o que se passa à minha volta.  Só depois da terceira vez entendi algumas das sutilezas filosóficas do autor do livro A Space Odyssey, Arthur C. Clarck, magistralmente roteirizadas por Kubrick. A desativação do HAL marcou por uma frase inserida propositadamente pelo diretor: “I'm afraid”, "eu estou com medo".

Há dois momentos simbólicos do uso de ferramentas que flutuam no espaço: o osso, usado pelo macaco para matar o seu inimigo, e a caneta flutuando no interior da nave. Tudo isso se passa numa escala evolutiva jamais vista no cinema: as trevas representadas pelo macaco sádico e a luz representada pela criança estrelar com o brilho da iluminação no olhar; da inépcia à sabedoria num tempo estimado em quatro milhões de anos. Mas, também pode simbolizar que a palavra é melhor forma de diálogo.
O filme predatou em mais de um ano a viagem do homem à lua e, agora, faz elo na corrente da descoberta do Bóson de Higgs, conhecido como a Partícula de Deus, fundamental para entender a construção do universo. Interpreto assim: eu sou a partícula de Deus. O espírito do homem é o elemento principal de todo esse arranjo universal que assusta os cientistas e seduz os filósofos, os pensadores e os escritores atentos. Tudo no universo se passa numa simetria de dar medo: um olhar perturbador de infância e velhice: inocência e sabedoria a flutuar no universo. Depois a possibilidade da revelação do elo perdido pelo homem.

Quanto mais os cientistas estudam mais se aproximam de Deus. Porque tudo provém Dele. E nós, seres humanos, somos instrumentos para a evolução do cosmo. Cada um de nós tem um papel importante na vida do outro. O código para o futuro harmonioso é viver bem com o próximo. O espírito é a Partícula de Deus que está imbricada na densidade da matéria.  

Aos agnósticos uma verdade insofismável: todas as coisas do mundo estão na Bíblia, inclusive as grandes descobertas. Há uma cumplicidade arrebatadora do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço e a hipótese da Partícula de Deus. A ciência ainda a considera uma possibilidade, entretanto, minha fé aponta à certeza de que eu sou essa insignificante parte do Todo Poderoso Deus; a síntese da teoria do Modelo Padrão. 
A história do homem é o reflexo dos piores e mais cruciantes problemas enfrentados pela raça humana ao longo da sua história. O romancista argentino Manuel Puig escreveu que as vozes dos suas personagens estão cheias de pistas escondidas. E completou: “E gosto de ouvi-las”.

Talvez essa seja a ferramenta mais importante do cronista: ouvir e perceber o que a cidade tem a lhe dizer. Goiânia, antes de ser cosmopolita, é universal na sua forma telúrica de contar os passos na direção do futuro. A cidade é um marco simbólico do espírito ousado de Pedro Ludovico; talvez ela represente uma civilização a flutuar no espaço em busca da sua identidade. A aurora do goainiense viaja em uma metrópole – a nave - agitada como se fosse um zoológico biruta. Mas, existe aqui um mundo de histórias escondido na sua alma afetuosa e doce.

0 comentários:

Postar um comentário