sexta-feira, 8 de abril de 2011 | By: Doracino Naves

Palmelo cabe nos meus olhos

O carro deslizava no asfalto molhado da estrada de Catalão a Goiânia. O sol começava a esquentar, o vento soprava enxugando as últimas gotas do orvalho da madrugada. Parei para ouvir o canto dos pássaros. Olha, lá!  Um pássaro-preto, não, dois... três. Olha, tem outro lá! Então, são quatro pássaros batendo asas e cantando. Ouço o eco nos montes do cerrado. Um pé de araticum solta um fruto maduro que se parte ao cair no chão. De lá vem um cheiro gostoso.
      
Nisso, um bando de bem-te-vis, canários e curiós formam uma orquestra. Cada qual queria mostrar melhor  talento vocal. Tem um efeito mágico o canto de passarinho na vereda. Me lembra Guimarães Rosa no seu Grande Sertão. Ou, Nana Moskouri, interpretando Serenata, de Franz Schubert.
       
Alguém me disse que o som dos pássaros nas matas é a matriz na qual se inspiraram os grandes compositores clássicos. Velhos tempos, antigas músicas a puxar as minhas lembranças que estão ligadas à trilogia de muitos significados: Porto do Barreiros, Palmelo, Goiânia. Chegava a Pires do Rio quando toca o celular. Era o Bira Galli. Parei novamente o carro perto de uma granja, à beira da estrada.
       
 - Fala, irmão Bira. Diga-me tudo. Não me esconda nada!
       
Ele riu da brincadeira.
      
- Doracino, você está em Goiânia?
      
- Não, Bira. Estou em Pires do Rio, o maior bairro de Palmelo; capital da região da Estrada de Ferro de Goiás. Estou quase chegando ao Anel Viário de Palmelo.
       
- Pires do Rio bairro de Palmelo? Anel Viário? Lá só tem dez carros. Doracino, você está delirando. Capital de onde?
       
- Bira, você deve se render ao progresso de Palmelo. Por falar nisso, Bira, estou indo a uma exposição de esqueletos de dinossauros no principal Shopping da cidade. Aliás, essa exposição só foi mostrada, no Brasil, no Shopping Ibirapuerea, em São Paulo. Agora, chegou a Palmelo.
       
- É, definitivamente, você enloqueceu.
       
- Outra coisa, Bira, a Copa do Mundo, se Natal desistir, vem pra Palmelo. A Fifa já encomendou uma vistoria no Estádio Jerônimo Cândido Gomides.
       
- Pois, é. O seu amor por Palmelo, igual ao do Euripedes Leôncio, faz vocês verem coisas que não existem. Vamos ao que interessa...
       
A conversa continuou com amenidades.
      
Pires do Rio, claro, foi uma das mais importantes cidades de Goiás no início da estrada de ferro; continua sendo uma cidade bonita e agradável. Mas, amo Palmelo. Meu coração bate forte quando me vejo nas ruas que antes eram cobertas com terra batida pelo tropel dos cavalos, dos carros-de-bois e das boiadas atravessando a rua principal. 
      
No ar de Palmelo ainda tem o perfume das flores e dos frutos do cerrado. O hálito da moça cheira a café com broa assada no forno à lenha. Ainda guardo na memória os leves pêlos das pernas da moça branca, dourados pelo sol do córrego Caiapó.
       
O carro balança no asfalto ainda molhado. Os pneus chiam pedindo para parar. Do alto, avisto a cidade amanhecendo nos meus olhos. Dalí meu pai Zequinha Naves fez muitas fotos com a sua máquina apoiada num tripé.
         
Minha sombra suaviza entre o Esbarrancado e a ponte do Caiapó. No alpendre da casa simples em frente ao Centro Espírita,  meus tios Eurípedes Naves e Tita me esperam. Deslizo suavemente para o meu interior.


 Fotos - ordem decrescente: Alexandre Pohlmann, Glaucio Henrique Chaves,Nápoli & Braga
Conheça Palmelo aqui...
         
Doracino Naves é jornalista. Diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (http://www.raizestv.net/). Escreve aos sábados neste espaço.

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