terça-feira, 20 de março de 2012 | By: Doracino Naves

Corredor da descrença

Tem gente que acredita que o mundo vai acabar em 2012. Outros acreditam que o planeta ficará deserto sem que o homem tenha ido à lua. Pois é, tem gente que acredita que o pouso na lua foi encenação dos americanos, tipo efeito especial de cinema.Os filmes de hoje estão cheios de imagens assim. E tem gente que acredita na mágica do cinema e nos super-heróis. Paciência, né? Afinal, a gente recebe diariamente uma aluvião de informações que nos divide em tribos do crer e do não crer. Essa é questão.

Fico com os que creem.  Abraão acreditou na promessa de Deus e se deu bem.  Então é melhor a gente acreditar, mesmo quando é só conjectura. O escritor inglês Bernard Shaw considerava John Bunyon - autor de O peregrino, alegoria cristã escrita no século 17, o livro mais traduzido depois da Bíblia - como um grande escritor porque ele acreditava naquilo que dizia.

Ian Mcewan acreditava em romance histórico, escreveu O inocente; Amos Oz em romance epistolar. Publicou A caixa preta iniciando com a carta de uma mulher ao ex-marido. Millôr Fernandes acreditava Liberdade, liberdade; também em hai-kai: Esta é a verdade/Eu sou um homem/De minha idade. Fernando Sabino acreditava em O encontro marcado. Érico Veríssimo enquanto olhava os lírios do campo acreditou em O tempo e o vento.

Pedro Bloch, autor do monólogo As mãos de Eurídice acreditava que o mais importante é não vencer na vida, não se realizar; o homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final. O maestro Isaac Karabtchevsky acredita que o grito dos instrumentos musicais é melhor do que o silêncio de uma orquestra. O ator Paulo Autran viveu a vida acreditando no sonho do menino que queria fugir com o circo.

Elis Regina acreditava tanto em cantar que nunca procurou outros caminhos. Tônia Carreiro só acredita num mundo feito de amor. João Saldanha acreditava que não se ganha jogo de futebol no grito; se fosse assim a Itália seria imbatível. Nelson Rodrigues não acreditava nem na esquerda, nem na direita. Acreditava que, de parte a parte, todos,rigorosamente, eram canalhas. Bibi Ferreira acredita que o quadro mais representativo da solidão é um teatro vazio.

Gabriel Nascente acredita na poesia de tempo integral. O artista, o escritor, o pedreiro, o escultor ou qualquer outro tipo de homem ou de mulher precisa acreditar no que faz. Senão, babau! O certo é acreditar no que crê sem descrer do que não pode ver; encostar a crença nas ações sem precisar de argumentos contrários, corredor da descrença. Na verdade, acreditava Renato Russo, quem acredita sempre alcança. Fernando Pessoa acreditava que o poeta é um fingidor/Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.

Eu acredito. Isso me basta...    

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