segunda-feira, 1 de julho de 2013 | By: Doracino Naves

Angu sem caroço

Estamos em junho, mês em que o céu é mais estrelado. Perdoai-me por não descrevê-lo com poesia. Hoje não estou animado para isso. Para falar a verdade, também não sou poeta, embora tenha na minha estante, entre outras, a ótima poesia de Fernando Pessoa. O melhor então é olhar o céu e soltar a imaginação.  Miríades de estrelas estão acesas sobre Goiânia, mas as lâmpadas das ruas atrapalham a visão esplendorosa da abóbada celeste nesse mês de festas de São João. Se tivéssemos postes de luz baixinhos, rentes ao chão, as estrelas seriam mostradas aos nossos olhos. Mas, não, foram inventados altos por um maluco para esconder o céu.
     
Na roça é mais fácil ver as estrelas. Pois é, no mês de junho o céu do Centro-Oeste é o mais bonito do Brasil. Tem razão o caipira em preferir a lua e as estrelas às luzes da cidade. Talvez seja mais fácil entender nossa missão na terra quando percebemos a poesia inebriando da natureza a afetar os sentidos; leva-nos a pensar sobre a magia do universo abissal e a nossa diminuta condição humana. Impressionante como a natureza é mais bela e aprazível nas condições naturais. O homem do campo, ao contrário do urbano, sabe que a sua sobrevivência depende do respeito aos ciclos de cada coisa. A água, a lua, as estrelas, o sol, as árvores e tudo que o cerca merece atenção dobrada. Para esse tipo de homem o mundo externo ao seu é um angu sem caroço. A boa vontade com o mundo faz parte do seu cotidiano.
    
Tudo é espontâneo na vida dos simples. É comovente o carinho do roceiro ao lavrar a terra; preparar a hortaliça ou cuidar dos animais. Há um incontido respeito e veneração em cada ato, criando um liame que traduz a perfeita moral do cuidado com a natureza e suas próprias necessidades. Na cidade tudo é disfarçado: o asfalto cobre o chão; as lâmpadas artificiais ofuscam as estrelas; a palavra lisonjeira revela uma multidão de bajuladores dissimulados.
     
Mas o céu cobre a todos sem distinção. Então, olhemos com respeito para o alto. Descrever o céu estrelado com a poesia humana é tentativa vã. Melhor mirar os olhos no céu e se animar com a insofismável poesia das estrelas.
    
Descrever isso com palavras é tarefa difícil e imprecisa.
    
Olhai o céu! Ele estará sempre disponível a quem tem olhos para perceber a transcendental eternidade do universo, mesmo depois que tudo no planeta seja pó ou que as pedras se desfaçam em minúsculos grãos de areia. 
    
Olhai o céu e faça o seu pedido.
          
    
Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (www.raizestv.net). Escreve aos sábados no DMRevista.

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