quinta-feira, 17 de maio de 2012 | By: Doracino Naves

Universo Autêntico

O universo é, por natureza, criativo, exuberante e real. Nós, criaturas de Deus, vivemos um mundo de faz-de-conta e frases feitas; descaradamente repetitivas. Há situações em que, mecanicamente, repetimos tudo e todos. Somos, enquanto humanos pretenciosos, de uma limitação espiritual aterradora. A mesmice que grassa na mente humana é inexpugnável. Como a mesmice não segue a teoria da expansão do universo, ela volta com o lixo das emoções a ferir o barranco da alma, jogando-as no abismo humano perecível. A imensidão do espirito, perfeitamente harmônico com o Criador, aprecia a aparente monotonia do céu, entretanto, sabe que o cosmo possui um turbilhão de movimentos concêntricos; uma progressão geométrica com insofismável razão e objetivo. A cada milésimo de segundo tudo muda no universo. É a lei da evolução.
Mas, para nós, mortais, o forçoso e, muitas vezes, impostergável hábito diário de sair às ruas é um inevitável encontro para ouvir do outro o que deu na TV, no rádio, no jornal e, agora, na Internet. E as câmeras instaladas dentro dos prédios e nas ruas ajudam a repetir a tragédia humana com as cores do realismo ortodoxo.
Noutro dia li uma crônica do Bariani Ortêncio, na qual ele constrói uma bela metáfora sobre a falta de criatividade na comunicação entre as pessoas. A tal crônica foi escrita só com frase feitas em todos os tempos. O Bariani é dessas pessoas sábias que guarda a magia da simplicidade. Mactub!
Lembro-me de um personagem de Dostoiévski, Lújin, que em Crime e Castigo se apresenta a Raskólnikov como o noivo da sua irmã repetindo frases prontas. O principal personagem do livro - Raskólnikov - diante disso, diz irritado:
 -Estou a par! Estou a par! ...E basta!
Lújin fez vistas grossas ao rigor verbal do cunhado. Continuou com algo assim:
Se soubesse que estava doente teria vindo antes, mas tenho tantos negócios que não pude vir. Estou acompanhando uma questão forense muito importante no Senado. E repetiu conceitos tirados dos filósofos clássicos e escritores russos. Quer dizer, além de repetitivo, Lújin era também muito arrogante. Suas teorias a respeito da ciência, dos negócios, da filosofia, das artes e da lei moral soavam falsa e pretensiosamente. Ai de quem discordasse das suas ideias. O resultado desse diálogo foi essa frase de Ródia, apelido do personagem maior:
 - Vá para o diabo!
Na verdade, por um conceito das escolas iniciáticas e religiosas, quando o bem ou o mal são repetidos, eles plasmam no mundo espiritual a egrégora que a gerou. Então, por obediência à lei cristã, devemos repetir o que é melhor a todos, na intenção de que o sobrenatural copie a lei original da criação do mundo: o bem que deve imperar sobre todas as coisas.
E, ao final do tempo de cada um de nós na terra; vestido com roupa limpa, talvez nova, possamos descansar em uma caminha estofada e cheirosa, no último repouso do corpo. Aí, então, a gente pode ao cruzar as mãos sobre o peito murcho e, quem sabe, nosso espírito voe para o universo fecundo, vivo e autêntico.
Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (www.raizestv.net). Escreva aos sábados no DM.

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