quarta-feira, 5 de março de 2014 | By: Clara Dawn

Eu e o outro; a matemática difícil


Noutro dia estava a pensar na importância da matemática para o homem. Aprendemos a contar de um a dez graças a Leonardo de Pisa - Fibonacci - argelino que viveu no século doze. Ele publicou Liber Abbaci, feito à mão, o primeiro best-seller da história. Por meio do Livro do Cálculo, o mundo aprendeu as quatro operações. Mal completamos oito séculos da invenção do sistema numérico e já lidamos com a ciência quântica.

Houve um tempo na terra tempo em que o homem só lidava com quantidades bem próximas do seu dia a dia. O um e o dois são os números mais antigos. O número três representava uma quantidade enorme para quem não sabia contar.  Na pobreza mental do homem das cavernas o raciocínio foi simples: caçar um animal era mais fácil do que três; um é pouco, dois é bom, três é muito estressante. O melhor, depois da caça, era o ócio do paraíso com os olhos voltados para o céu. Aí os poetas aprenderam a contar mais de duas estrelas no céu. 

Por falar em poetas me lembro de que o soneto - criado no século treze - usa a matemática como fundamento para a composição dos versos. Tem quatro estrofes; as duas primeiras apresentam quatro versos; as outras duas são compostas por três. Essas são as regras básicas da composição de um soneto, suficientes para amalucar qualquer poeta iniciante. Júlio Verne usou a matemática para escrever seus livros sobre ficção científica. Depois foram usados pela Nasa para elaborar  complicadas equações que levaram o homem à lua e ao espaço sideral. Todos os grandes inventores, inclusive Bill Gattes, da Microsoft, e Steve Jobs, da Apple, utilizam cálculos matemáticos em seus inventos.

Então, as grandes invenções, inclusive o edifício das grandes catedrais na idade média, foram calculadas cuidadosamente usando arranjos matemáticos.  Por mais que homem invente coisas novas, elas são insignificantes diante da abissal perfeição e  harmonia do universo. As criações terrenas não resolveram a solidão do homem que, a cada dia, se afasta mais do próximo. Em nosso pequeno mundo só aprendemos a contar até o número 1: Eu. Diante dessa pobreza de sentimento, o número 2 - eu e o outro - é um arranjo muito complicado para o egoísmo do homem.

 Muitos utilizam sofisticados equipamentos eletrônicos pensando que podem substituir a presença das pessoas em sua vida. Nas grandes cidades, por exemplo, a maioria nem se visita. Antigamente as pessoas viajavam léguas e léguas para ver uma pessoa querida. As viagens demoravam meses em estradas ruins; mais pareciam uma aventura. A alegria do reencontro apagavam as dificuldades. As novas tecnologias estão sendo aperfeiçoadas para atender as funções da modernidade. A roda, considerada a maior das invenções, precisa de novos cálculos para eliminar os atritos comuns da sua função de rodar livre. Existe um plano minucioso para chegarmos à perfeição em tudo, até na alma. 

O Deus misericordioso dá talento ao homem para criar, descobrir ou revelar algo necessário à vida. Mas, nenhum homem é completo e nenhuma invenção humana está acabada.
Só a matemática do Criador dos mundos é infalível; precede ao Big Bang planejado por Ele. As máquinas, inclusive a criação artística e literária, é, ao meu ver, completamente inspirada no espírito do Altíssimo. E, na memória do céu estão arquivadas as fotos da missão do homem.  

Vejo o meu retrato: um menino pobre de Porto Barreiros que chegou a Goiânia num caminhão de mudança; nem deveria ter pensado em descer.
        
 (Publicado no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia -Goiás em 01 de março de 2014).
             
Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, PUC TV, Sábado, 13h30. Escreve aos sábados no DMRevista.

1 comentários:

Tejuco disse...

De todos os artigos que li, produzidos por sua verve, sempre me faz admirar as últimas palavras, que repito a um tirocínio lépido, fruto de um espírito ainda menino habitando o cérebro de um senhor.
Parabéns!

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