segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 | By: Doracino Naves

Ordem da Jarreteira


Conta uma lenda inglesa que o rei Eduardo III, durante uma festa em Calais, chamou a condessa de Salisbúria para acompanhá-lo numa dança. Rodopiaram animados pelo salão na presença da Corte inglesa, inclusive da rainha. Durante a dança a jarreteira (liga) da condessa caiu. O rei apanhou-a no chão e ao devolvê-la notou intenso burburinho entre os presentes. Irritado bradou no idioma francês antigo: Honni soit qui mal y pense (maldito seja quem pensar mal) e essas palavras foram grafadas em letras douradas na medalha. Pronto. Estava criada a Ordem da Jarreteira, a mais antiga ordem de cavalaria militar britânica.  
               
A rainha Vitória, séculos depois, com apenas dezoito anos, assumiu o trono do seu país. Idealizou a Ordem da Jarreteira para defender os pobres e lutar contra a tirania. A Era Vitoriana, que durou 64 anos, expandiu o império britânico com duradouras conquistas na cultura, nos negócios e no campo social houve a abolição da escravatura. A Ordem da Jarreteira serviu lealmente à rainha. 
                   
O traje da Ordem da Jarreteira é feito, principalmente, por um manto de veludo azul com chapéu ornado em plumas de avestruz brancas. O conjunto é fausto e cavaleiresco como é a tradição inglesa. O tempo passou e, hoje, o príncipe Willian, o segundo na escala de sucessão ao trono da Inglaterra, dirige a Ordem da Jarreteira. O Brasil já teve um representante, foi o imperador D. Pedro II.
               
Na história da humanidade existem outras organizações que enaltecem a dignidade. O Tosão de Ouro, por exemplo, criado em 1430 por Felipe, o Bom, Duque de Borgonha, se tornou a mais elevada honra na Espanha e Áustria. Outro emblema honroso foi a Águia Romana, criada por volta de 200 AC, com a figura de uma águia sobreposta a um mastro. Por muitos séculos foi temida como o símbolo bélico da poderosa Roma Antiga.
                  
Desde então, outros países e instituições criaram comendas que ressaltam a honra, o trabalho e a dignidade. Destacar as virtudes humanas é uma forma de aproximar o ser humano do Sublime.
                   
Percebo uma fonte secreta a inspirar a invenção das coisas. Talvez exista um reino sobrenatural que nos chama insistente para trilhar o nosso destino.
                 
O homem vai de um degrau a outro e para. Depois se lança ao degrau seguinte na ânsia de atender ao desígnio secreto do espírito. As crenças pessoais, grilhões que nos prendem ao nosso mundo, retardam a compreensão de outras realidades. Mas, quando conhecemos a história do outro vemos nele um pouco de nós, de nossas angústias, de nossos dramas imaginários plasmados em tudo; pessoas e coisas.                               
            
No final da jornada talvez tenha um galardão guardado lá no alto; longe das nossas convicções individualistas.

(Publicada no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia - Goiás em 23/02/2013.
                
                
Doracino Naves, jornalista: diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV. Escreve aos sábados no DMRevista.
  

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