segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 | By: Doracino Naves

Gosto de todos... até de mim


Essa é de teatro. Quer dizer, começo com a história de quem é do ramo. Lembro aqui um de meus autores preferidos, Pedro Block, foniatra que escreveu As mãos de Eurídice, Dona Xepa e dezenas de outras peças de sucesso. Numa entrevista a Clarice Lispector, que exercia o seu lado de jornalista, respondeu-lhe o modo pelo qual reconstruiria o mundo: “Começaria por me reconstruir. O mundo somos todos nós, responsáveis, um a um, pelo que fizemos no mundo. Só depois de me reconstruir é que eu me sentiria no direito de reconstruir o mundo”.
             
Boa lição para quem se mete a dar conselhos por atacado sem olhar para dentro de si. Mas, por favor, que ninguém vista essa carapuça. Porque, na verdade, quero encaminhar a crônica de hoje para outro lado. O do perdão, da renúncia e da humildade. O mundo precisa de gente que pensa a humanidade com alma alegre e fraterna. Dessa forma, sim, foco num goiano que se reconstrói a cada dia: Batista Custódio. Sua dimensão é universal, única, insubstituível na arte de gostar de pessoas. Ele gosta até de pessoas que não gostam dele. Batista Custódio, o maior jornalista goiano de todos os tempos, a exemplo de Pedro Block, gosta dos que gostam.
               
Percebo nos artigos antológicos do DM que a sua reconstrução é dolorida, corajosa, porém, plena de generosidade na busca de se encontrar a si mesmo. Pois é, penso que Batista Custódio não deseja ensinar coisa alguma a ninguém, entretanto, mostra os labirintos da alma com respeito à individualidade de cada ser humano. Assim ele se sublima quando toca as cordas do coração. E nos passa a sensação de que podemos fazer mais pelo outro no sentido de evitar o isolamento e a solidão.
             
E o mundo sem gente faz mal a gente. Nessa intenção de falar da realidade lembrando casos de teatro me lembro de Bibi Ferreira que disse que o mais expressivo retrato da solidão é a fotografia de um teatro vazio. Aí eu me lembro de Nelson Santos, o insubstituível fotógrafo de eventos culturais, com alma generosa e pura que, talvez no propósito de unir personalidades da cultura, junta o máximo de pessoas, amigas ou não, para o esperado click. Suas fotografias revelam o desejo do coração desse talentoso fotógrafo de ver as pessoas sempre unidas.
                
Então, eu vou aprendendo com essas pessoas a gostar de todos; afinal, essa é a personalidade do capricorniano. Aprendo, com o tempo inexorável, a gostar até de mim.

(Publicada no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia - Goiás em fevereiro de 2013).
                    
Doracino Naves é jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultura, na Fonte TV(www.raizestv.net). Escreve aos sábados no DMRevista.
           
             

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