segunda-feira, 6 de junho de 2011 | By: Doracino Naves

O silêncio é crime

Lembro da aula inaugural do curso de jornalismo na Universidade Católica de Goiás. Isso foi em 2004. Tinha mais de 60 alunos na sala, cada qual com um sonho secreto. Todos eram jovens; a média de idade talvez nem chegasse em 20 anos. Eu, com mais de 50, parecia o avô da turma. A maioria entrara na faculdade de jornalismo para fazer televisão. Poucos queriam o impresso. Outros, em número menor ainda, o rádio. Só 18 alunos chegaram ao oitavo período do curso. Mas, o coração da maior parte continuava indeciso.

Eu, jornalista tardio, trabalhava na revista Automóveis & Cia. Resolvera seguir no jornalismo tendo como exemplo o Batista Custódio. Com a verve dele e a palavra doce, leniente, de Jávier Godinho, cujos textos se transformam em borboletas de luz a clarear a magnífica floresta de homens. Escrever no mesmo espaço do jornal em que escreve Jávier Godinho é um privilégio. Não aprendi a escrever igual a eles, mas recebi as suas boas palavras. Batista Custódio é a fonte e o ideal do bom jornalismo. Às vezes duro, outras vezes ameno, generoso; hábil poeta na construção de metáforas lendárias. Seus textos são antológicos. Os melhores, criados desde o jornal Cinco de Março, estão guardados como tesouros da imprensa goiana. 

Batista usa a palavra com a precisão de um esgrimista, mas tem no coração uma canção de amor escancarando as portas do DM aos bons ideais. Quando usa a navalha ou a pluma em seus textos Batista Custódio é supremo. Absoluto na arte de colocar o coração no teclado da sua máquina de escrever. Dialético, conclusivo, Batista é o eterno renovo do jornalismo brasileiro. Para o Diário da Manhã o silêncio é um crime. Por isso o jornal ouve o barulho dos artigos ecléticos dos colaboradores do Opinião.

Mas, o Batista não precisa de toda essa bajulação. Volto ao tema inicial. Faço essa transição textual porque recebo do “DM Revista” tabletes de açúcar refinado a adoçar minha crônica semanal. E ela vem incensada com o ideal jornalístico que deve se expressar em linguagem simples. Um bom modelo da singeleza de texto é o de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. 

No oitavo período do curso de jornalismo, mesmo interessado no impresso, já fazia o programa Raízes Jornalismo Cultural, na TV, nascido no estúdio de TV da Universidade Católica, hoje PUC-GO. Segui os passos dos professores Márcio Venício e Bernardete Coelho, jornalistas da TV Anhanguera que tentaram me ensinar um pouco sobre televisão. Se mais não aprendi é porque demoro a aprender as coisas. Mas, o tempo passa, a vida é curta, estreita como é o caminho do homem.
Ao contrário das ruas largas de Goiânia que, muitas vezes, levam ao desvio da aula inaugural da vida. Bela, jovem, irreverente, nossa cidade tem a força de dez cidades imbricadas uma na outra. Guarda em suas ruas e avenidas um pouco da pujança de São Paulo, da beleza de Brasília e da jovialidade de Palmas. Goiânia é tentadora nas suas curvas salientes.

No fim deste outono o céu se abre azul numa paisagem seca com pontinhas de sol brilhante nas ruas, nas praças, nos bosques, nos prédios e na alma das pessoas. As flores derrubadas pelo vento cantam à luz da manhã celebrando o mês das festas juninas.  
          
Doracino Naves é jornalista. Diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV. (www.raizestv.net). Escreve aos sábados neste espaço

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