segunda-feira, 18 de novembro de 2013 | By: Doracino Naves

Romanceiro de Goiânia

 Cadê a Goiânia antiga? Escondida. Talvez envergonhada com a falta de romantismo dos tempos de hoje. O crescimento desordenado e a falta de um projeto que contemple todas as regiões da cidade tornaram-na caótica, encardida. Quem anda pela Avenida Anhanguera, passando pelos setores Rodoviários, Aeroviários e Bairro Capuava, vê essa parte da cidade com a aparência de cidade fantasma. A maioria dos prédios, com portas sujas e arriadas, está à venda. Se a gente andar mais vai encontrar outros pontos com esse aspecto sombrio de desamparo. Muitas pessoas se impressionam com os bairros e as regiões novas que se desenvolveram dentro do conceito moderno que isola as pessoas em carros com vidros escuros; cada um no seu canto.
          
Um exemplo é a região que começa no Jardim Goiás até o viaduto dos condomínios horizontais. Ali tudo é organizado, mas sem lugar para o encontro de pessoas; as ruas foram arquitetadas para passear de carro. As casas, fortalezas que isolam as pessoas em nome da segurança física, são assépticas e vazias; sem terreiros para plantar jabuticaba. Os jardins, criados para agradar aos olhos, revelam-se estéreis na intenção de unir gente pelo prazer estético; permanecem exclusivos dentro das muralhas inexpugnáveis.
          
Algumas partes da cidade são profanas e caducas. A Avenida Anhanguera é uma prostituta formada em Paris que vive no baixo meretrício. Com aparência de puta pobre a Avenida Anhanguera sente que o glamour dos anos passados pode voltar quando alguém se encantar novamente com ela. A Avenida Anhanguera precisa de um namorado. Planejada por Atílio Correia Lima, inspirado na arquitetura de cidades europeias, esta avenida faz o curso do sol - de leste a oeste - percorrendo quase quinze quilômetros da BR-153 ao Terminal Padre Pelágio. É a via mais importante de Goiânia.
           
Seus tapumes e placas, como se fossem roupas desajustadas, escondem belas fachadas. A última reforma da avenida, feita em 1998 por um governador maluco, é um desastre visual. Foi construída uma via exclusiva de ônibus; os carros espremidos entre a calçada e barras de ferro e, o pedestre, coitado, nem foi ouvido.  
           
A solução atual é construir um metrô por baixo da avenida. Assim, na superfície, pode ser criado um modelo de  boulevard que contemple carros, comércio e pessoas. Nos terminais - contei sete - podem ser criadas estações culturais. Isso resolve o problema do transporte coletivo e uma nova opção de lazer será entregue à população. E o belíssimo Lago das Rosas, com muretas em Art déco, pode ser integrado a esse conjunto.
           
A ideia não é tirar os carros da avenida e nem eliminar os atuais cruzamentos. Resumo: metrô embaixo e a Avenida Anhanguera de volta ao seu projeto original no formato de um Centro de Arte e Cultura – poderia ser batizado com o nome de Atílio Correia Lima –  com amplas possibilidades de diversão. Bem maior do que Centro Cultural Dragões do Mar, em Fortaleza.
            
Nossa Goiânia antiga está abandonada, mas livre para arrumar um namorado bacana.

(Publicada no jornal Diário da Manhã -DMRevista - Goiânia - Goiás em 16 de novembro de 2013).

                 Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do Programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (raízestv.net). Escreve aos sábados no DMRevista.               

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