segunda-feira, 20 de maio de 2013 | By: Doracino Naves

Serenidade


Todos os dias acordo orando por serenidade. Talvez essa seja uma fórmula para entender as complicações do mundo. Vejo Goiânia acordar preguiçosa e indiferente. A luz do dia tem tons azuis mostrando a trilha da serenidade. Nem consulto Nietzsche ou Descartes sobre isso. O burburinho de vozes torna diáfanos os labirintos da serenidade que é encontrada na paz do convívio com o próximo. Cada ambiente tem uma energia peculiar. A egrégora gerada pelos moradores é suficiente para plasmar a vocação da cidade.
        
Carros arrancam divergentes da Praça Cívica; outros a convergem. Pedestres apressados correm para pegar o seu ônibus. O sino da Catedral de Goiânia bate sete horas. A escultura de Pedro Ludovico, montada em seu cavalo vê uma cidade estranha e agitada surgir a sua volta. A escultura de Neura Moraes testemunha Goiânia se perder numa correria insana; a Praça Cívica fervilha de gente. Entretanto, percebo paz nos olhares; atalho seguro para a serenidade. Livros imaginários pendem das árvores em frente ao museu da Rua 26. A alma culta de Pedro consagrou Goiânia à posteridade pelo batismo cultural. As pessoas passam resolutas.
          
Há uma cadência serena no andar de homens e mulheres que caminham passos regulares; os pés irradiam serenidade. Essa firmeza na jornada torna a alma da cidade mais amena. Aqui os mendigos se vestem de uma brilhante roupagem espiritual para subirem aos céus; suntuosas vestes podem revelar andrajos espirituais. Num determinado dia todos os homens serão iguais numa vida futura. Mas, enquanto isso, na cidade também há lugares de ocupações frívolas e secretas. O caminho imperfeito desenha passos irregulares. Então, o descompasso também é descaminho. E a serenidade?
             
Está na relação amistosa com o outro, sem evasiva ou reserva mental. Com um pouco de serenidade e reflexão poder-se-ia evitar o mal do orgulho e a destruidora ambição. A humildade e a discrição consciente são formas para demonstrar a luz restauradora da serenidade. Trêmula, a luz do dia converge a um ponto central da Praça Cívica clareando os olhos incrustados de ouro das figuras que representam as três raças de Neusa. Há uma aura de plangente serenidade no olhar do negro, do índio e do branco. A quietude da Praça Cívica  mostra indiferença ao que acontece ali.
               
Carregadores da Comurg recolhem sacos de lixo. Um homem de terno vagueia entre os carros estacionados. Cada qual leva na alma o desejo de serenidade. Toda a essência de Goiânia é impressa num quadro branco moldado pelo pensamento de cada habitante.  E o espaço que Goiânia ocupa no mapa é ocupado pelo cintilante azul da paz. O desejo supremo é a serenidade, como se fosse uma imensa escada de Jacob a tocar o céu e revelar as estrelas.                                            
                 
Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (www.programaraizes.net). Escreve aos sábados no DMRevista.

(Publicado no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia -Goiás em 17 de maio de 2013).

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