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Na hora do Juizo Final quero um espírito sossegado pelos sábados alegres, de passeios e pescarias. E de repetidas iniciações, batismos e catarses. Oh, tempo inexorável, pode tirar o meu sossego nos outros dias; menos no sábado. Rogo a Deus - que a amada não me ouça - para que cure a minha chatice crescente com a idade que chega branqueando os cabelos. Meus amigos sabem que aos sábados sou melhor do que nos outros dias.
Minhas emoções, presas com sentimentos, se libertam. Elas voam acima do ipê amarelo da T-1. Anjos adejam no céu. Embaixo, o tempo úmido das águas de março se guarda para os meses secos do cerrado. As últimas nuvens soltam gotículas que prometem voltar no meio da primavera. Estamos no outono. No Parque Areião a lua cheia alveja as folhas do ipê esperando ordens do céu para florir. Promessa de flores brancas de ipê.
O sábado, animado, veste branco; inocente, puro, com a cor da pele do cordeiro. Um vento suave e fresco balança minha camisa de algodão. Olho para o lado procurando a palavra perdida nos tempos de Hiram. Busco, incansável, a chave da existência. Pode ser que esteja guardada sob a abóbada do Arco Real. Ou, talvez, a Luz ainda esteja distante da minha compreensão.
Fico perto de mim para saber quem sou. Sina inglória essa de a gente se esmiuçar nas lembranças para se conhecer. Numa padaria do Setor Oeste encontro um amigo da época do Automóvel Clube, onde hoje é o Parque Flamboyant. Sábado jogávamos futebol de salão. Ele, poeta da bola. Eu, espectador da vida, projeto de cronista.
O poeta, na tessitura do verso, se faz sublime aos sábados. Gosto desse dia de casamentos; noivos em juras de amor. Mas, ele também simboliza despedidas, perdas. Sorte que neste sábado a lua brilha por trás das últimas gotas de chuva de 2011.
É lua cheia. O sábado ilumina minhas sombras. A lua, espelho do sol, faz a sombra se esconder dentro da mata.
Doracino Naves é jornalista. Diretor-apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (http://www.raizestv.net/). Escreve aos sábados neste espaço.
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