Atravessar o mar Egeu sem
destino em busca do Velo de Ouro fez Hércules parar os seus doze trabalhos e se
juntar a Jasão e aos argonautas. A lenda
dos argonautas narra que o Velocino de Ouro foi feito por Frixo com a lã
dourada do fulgurante carneiro que era inteligente e voava como um pássaro. Exausto pela viagem vertiginosa sobre terras e
mares na fuga para longe da Grécia, deu seu último suspiro no alto dos picos do
Cáucaso, entre a Europa e a Ásia. Seu espírito subiu às estrelas formando o
Carneiro do Zodíaco; a sua lã de ouro ficou aqui embaixo. A cobiça pelo talismã,
segunda a crença, liberava riqueza e poder a quem o possuísse. Isso levou os seus
donos a pendurá-lo num carvalho sob a guarda de um dragão que nunca dormia.
Jasão foi encarregado a roubar o Velo de Ouro com a ajuda dos argonautas.
Os
alquimistas acreditam que essa lenda inspirou Felipe III, duque de Borgonha, a
criar o Tosão de Ouro. Na prática Tosão de Ouro é uma Ordem de Cavalaria
fundada para a defesa do reino e da fé cristã. Para confirmar essa versão teísta, que julgo verdadeira, durante
o ato de criação da Ordem de Cavalaria Tosão de Ouro passeou entre os
convidados um carneiro vivo pintado de azul, emblema do Agnus Dei que tallis peccata mundi - Cordeiro de Deus que tirais o pecado do
mundo – que é Cristo. Hoje o Tosão de Ouro é exclusivamente honorífico.
Sendo assim, O Tosão de Ouro
representa uma alegoria do Velho Testamento na qual aparece Gideão sendo
preparado para a vitória sobre os vizinhos ambiciosos. Ele foi um homem valente,
mas, durante um tempo se escondeu diante do domínio dos midianitas, beduínos primitivos
do deserto da síria que saqueavam a agricultura e o rebanho dos hebreus. Gideão,
preparando-se para a batalha, pede um sinal a Deus, na lã, com ou sem orvalho,
no sentido de fortalecer a sua fé e provar a sua liderança. Deus primeiro responde com a
lã encharcada. No outro dia a lã estava seca, porém, cercada de orvalho. A água
transformou a lã do cordeiro no ouro da promessa.
O Tosão de Ouro foi uma ordem cavalheiresca formada
por líderes em defesa do bem. Quem lidera deve se renovar constantemente. Gideão
foi um exemplo de mudança interior com muita fé. Tentando adivinhar o que ia ao
seu coração, talvez ele dissesse: eu sou um homem nascido que procura nascer de
novo. Quero me transformar. Assim, do orvalho da manhã renasce a vida cheia da
força do eterno retorno. O dia seguinte surge com o dourado alvorecer.
Considero o Tosão de
Ouro uma boa imagem da superação. Seja na versão alquimista ou na concepção
teísta a vida é pavimentada com pedras irregulares. Nossos pés, cascos de
cavalos cegos, caminha sob caminhos encorcovados
onde o futuro é denso e escuro. Talvez daí venha o medo. Jasão ou Gideão
tiveram medo, mas venceram-no.
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