No meio da tarde, sol quente de sexta-feira, procuro pôr em pé esta crônica. No intervalo da leitura de um poema de Pio Vargas, a quem Edival Lourenço diz que “chamou para si as cólicas do mundo”, recebo um e-mail trazendo citações do Goianês. Veio sem o nome do autor; se aparecer o dono dou o crédito. Por via das dúvidas acrescentei alguns termos. Vamos lá, de A-Z.
Anêim! – Ah, não! virou Ah, nêim! É usado em sentido de desagrado.
Arvre– Árvore.
Bão? Tudo bem? Outra forma usada: Bããão?
Barriga-verde – No Sul é catarinense. Aqui é novato, cru, inexperiente.
Caçar – Procurar. Goiano não procura, caça. Exemplo: Estive caçando você o dia inteiro. Vou caçar ‘os trem’ pra você.
Calçada – Lugar onde passa carro e se colocam mesas de bares e restaurantes.
Chega dói – Chega a doer. Variações: chega machuca, chega arranha.
Chega doeu – Passado de chega dói.
Coca-média – refrigerante de 290 ml, ou seja, o menor da família.
Corgo – Córrego. Pronuncia-se córrr-go.
Coró - Mandruvá
Custoso – Teimoso. Exemplo: Esse moleque é custoso demais da conta.
Dar rata – Gafe.
De sal – Salgado. Exemplo: Pamonha de sal.
De doce – Se ‘de sal’ é salgado, então ‘de açúcar’ é doce, certo? Errado. Em Goiás coisas doces são ‘de doce’.
Demais da conta – Gosto muito. Exemplo: gosto disso demais da conta.
Deixa eu te falar – Introdução goiana para um assunto sério. Exemplo: Ô, deixa eu te falar. Depois vem um ritual. E aí, bão mesmo? E o Goiás, heim? Perdeu! Tem base? É por isso que eu torço pro Vila. Lembra aquele negócio que eu te pedí...
Disco – Salgado frito.
Encabulado – Impressionado. Exemplo: Estou encabulado porque você não percebeu que o Vila é melhor do que o Goiás.
Fi – Filho. Substitui o 'tchê' gaúcho ou o “meu” paulista. Exemplos: Esse é o melhor, fi! Nossinhora, fí! Bão demais da conta!
Final de tarde – Happy Hour aportuguesado.
Galinhada – Galinha cozida no meio do arroz. Não usar este termo no norte do país. Lá, galinhada é outra coisa.
Mais – Substituto goiano para conjunção ‘E’. Exemplo: eu mais o Leonardo Rizzo torcemos pro Vila.
No Goiás – Em Goiás. Variação: na Goiânia.
Num dô conta - Não consigo, não sei, não quero, não gosto. Exemplos: Num dô conta de imprimir esse imêi. Nun dô conta de ouvir música sertaneja.
Ou quá? Algo como o que? Também pode ser Quá! Você vai ao Goiânia Ouro ou quá?
Pé rachado – Goiano legítimo. Algo como carioca da gema.
Piqui. Pequi. Fruto usado na culinária goiana.
Pit-Dog – Filho bastardo de lanchonete. Mas, o sanduíche é bom demais da conta, sô!
Queijim – Rotatória.
Quando é fé – De repente ou até que... Exemplo: Estava no consultório do dentista ‘ quando é fé’ sai um meninin chorando de lá.
Tá boa? Goianês para tudo Tudo bem?
Tem base? Essa expressão é tão goiana quanto a do ‘pé rachado’. Exemplo, o Atlético tá na semifinal da Copa do Brasil, tem base? Significado: Pode uma coisa dessas?
Trem – Pode ser qualquer coisa, inclusive o trem. “Te amo, trem!”. Ôôô, trem bão!
Uai – palavra sem sentido, como o ‘tchê’ gaúcho ou o ‘vixe’ nordestino. Exemplo: Você vai á festa hoje? Resposta: Uai, vou!
Vende-se – Vende-se o quê? Pode ser qualquer coisa: um casa, um violão, um apartamento, um LP usado ou uma dentadura conservada.
Zóio – Olho. Exemplo: "Olha com o zóio e lembe com a testa".
Volto à tarde pachorrenta deste começo de maio. Um poema de Pio Vargas: “A idade não faz curvas. E não segue em linhas rotas/sua multidão de certezas conduzidas. Alço meu cantil de esperas/ao molde das horas/e as palavras envelhecem rápido/formando rugas no poema. As palavras/elas não existem/ senão para nominar/o velho formato/ de observar o novo.
Num canto da mesa o livro O Trono no morro, de José J. Veiga, me espera ansioso. A matéria que suporta esta crônica não tem a leveza do sonho. Mas eu amo o papel do Diário da Manhã.
Doracino Naves é jornalista, diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV, (www.raizestv.net) doracinonaves@gmail.com.
0 comentários:
Postar um comentário