Depois da dedicação do Templo uma densa coluna de nuvem pairou sobre ele durante o dia e a noite uma vigorosa coluna de fogo escancarava a presença de Deus. As colunas de nuvem e fogo passaram a acompanhar o Tabernáculo nos deslocamentos do povo santo.
O segundo Templo, construído por Salomão, no coração do santo Monte Moriá, cerca de mil anos após esse feito, em torno do ano 1.015 A.C., recebeu todo o acervo do Tabernáculo para onde foi transferida a Arca da Aliança e todas as peças fundidas em prata e ouro. Os símbolos sagrados e alegorias celestes foram transferidos para o Templo de Jerusalém. Depois, destruído por Nabucodonosor, em 521 A.C., é celebrado como uma das mais magníficas construções do homem.
Com o retorno dos hebreus do cativeiro babilônico, Zorobabel, príncipe do povo; Ageu, o profeta; e Josué, filho e assistente do Sumo-sacerdote, receberam ordem de reconstruir o Terceiro Templo - o segundo de Jerusalém - sob os escombros do destruído Templo de Salomão.
No ano 70 da era cristã Tito, imperador romano, destruiu toda Jerusalém e o Templo de Zorobabel foi junto. Só restou uma parte da muralha para mostrar o poderio do Império Romano. E os judeus, há séculos, lamentam a destruição do sagrado templo aos pés da muralha; hoje é o muro das lamentações. Hoje, quando escrevo essa crônica semanal, penso na construção e reconstrução desse arquétipo sagrado. Isso me faz pensar que devo desconstruir em punhado de equívocos da jornada terrena e remover cada pedra dos descaminhos.
Nessa manhã arrasto pesadas correntes de lembranças com enormes bolas de ferro nas pontas. Arrasto-as com as forças que me restam. Bendigo o sol que ilumina outras terras e outras eras. A mesma luz que vejo todos os dias também é vista por todos os irmãos. Esse olhar igual e fraterno nos faz uno na essência. Fiz essa digressão histórica tentando engambelar meus pensamentos. Em vão. Desde a impressão da primeira letra dessa crônica que penso nela.
Hoje, Senhor, minhas lembranças exprimem versos de luz a quem se foi para o céu há quase dois anos: minha filha Karolline Jacob Naves. Fernando Pessoa zarpa do seu Tejo para me ajudar nas minhas quimeras. “Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela, e vendo-a sempre de maneiras diferentes”. Penso nela. É só isso que eu quero nessa manhã. Nada mais peço a Deus, só pensar.
(Publicada no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia - Goiás em 20 de julho de 2013)
Doracino Naves, jornalista; diretor e apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, na Fonte TV (WWW.raizestv.net). Escreve aos sábados no DMRevista.