![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifI1A95WEKxgjQk5QD9rsCfH9S6vhMzS34GWdpkWYbU_earQ1lDpmRszOwCoe6XiCG5ciTY-ihmolLlyo_nJc815__cniCoOA_PGfSqZRemDuqRC6kXT0qF0JhSqMg6A-qIK0BwREmcD-R/s320/8243aae4a5d0bc3e4c87593d40e7fef688925447.jpg)
Nessa viagem pelos labirintos da criação artística e literária é absolutamente impossível racionalizar a abissal diferença entre a obra de Machado de Assis e a da maioria dos escritores brasileiros; Mozart e a sua genial ópera A Flauta Mágica; Shakespeare e sua obra eterna. A impressão é que Deus põe a mão na cabeça do escolhido e o autoriza a viajar pelo universo da criação artística.
Eterna é a pintura de Leonardo da Vinci; arrebatadora a escultura de Michelangelo. Há centena de outros grandes artistas que se fazem portadores da cultura do seu povo. O Livro dos Salmos, onde a metade é atribuída a Davi, revela o primor da poesia hebraica sem rima; mas pela repetição paralela clareia o pensamento do autor. O Livro de Ezequiel, autor que é considerado por alguns críticos como esquizofrênico, é um clássico, com figuras alegóricas impressionantes.
Será que o conhecimento intelectual é suficiente para atingir as cordas mais profundas do coração? Aí a gente já pode começar ver o caminho que separa a arte do conhecimento intelectual. Um artigo científico não impacta a alma da mesma forma que uma crônica de Rubem Braga. Leda Selma, doce cronista do DM, faz a gente parecer maior e mais importante do que somos. Há nestes exemplos uma sutil diferença entre a inspiração e a transpiração.
Num sentido mais literal podemos ver o efeito da arte sobre as emoções até no futebol. A correria dos jogadores em mais de 90 minutos do último jogo Santos e Flamengo foi apagada por lances de pura arte dos artistas Ronaldinho Gaúcho e Neymar. Este toque mágico da inspiração faz a diferença entre a arte e o suor. Então, arte é só a que toca as nossas emoções? Nem sempre. Nossas emoções são tão volúveis!
Mas elas descobrem canais que ligam o nosso espírito ao alto. Isso também depende dos nossos valores estéticos. Seja qual for o processo da criação artística, uma certeza: os artistas são seres especiais enviados para iluminar a existência terrena. Lembro-me do palhaço Carequinha quando esteve em Goiânia, no começo dos anos 60, numa única apresentação no antigo Cine-Teatro Goiânia. Eu era engraxate na Avenida Goiás, mas conhecia suas músicas e os seus filmes.
Nesta época Carequinha era o palhaço mais famoso do Brasil, animando programas na TV, no Rádio e em filmes que rodavam o Brasil. Um palhaço muito bacana. Uma de suas músicas diz assim: “O bom menino não faz pipi na cama/O bom menino respeita os mais velhos...” E por aí vai. Fui ao Teatro Goiânia pensando só em vê-lo chegar pela entrada lateral. Nem pensei em assistir o seu show.
Ele chegou com a sua turma pouco antes da apresentação; inclusive o palhaço Meio-Quilo um anão que participava das suas palhaçadas. O teatro estava lotado de crianças e os seus pais. Como não podia pagar a entrada fiquei por ali, junto com os outros engraxates, na porta do Teatro pensando num jeito de entrar. Porém, antes de começar o show, Carequinha autorizou a nossa entrada sem pagar o ingresso. Nem acreditei que veria, ao vivo, o palhaço Carequinha.
Foi a primeira vez que entrei no Cine-Teatro Goiânia. Vi o show, com mais de outros dez engraxates, sentados na caixa de engraxar e num lugar privilegiado: na primeira fila entre o palco e as primeiras cadeiras. Carequinha já foi embora deste mundo, mas continua palhaço no imaginário de milhões de brasileiros.
0 comentários:
Postar um comentário